Quem combate as fake news?
- Labcom Univap
- 25 de mar. de 2019
- 4 min de leitura
Labcomprofissa
Núcleo de práticas de comunicação do Labcom Univap

As fake news, termo em inglês para notícias falsas, não é algo novo na sociedade. Quem reforça essa afirmação é o historiador francês Jean-Yves Mollier, que durante o seminário Imprensa e Poder: Do Caso Dreyfus aos Conglomerados Midiáticos, realizado em abril, no Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP relembrou casos do século 19 nos quais a imprensa teve um papel político importante ao disseminar notícias falsas.
Outro exemplo mais contemporâneo é o caso da Escola Base. A cobertura parcial da imprensa e a conduta precipitada do delegado de polícia foram comportamentos que acabaram na acusação de pessoas sem ter provas concretas, trazendo consequências em suas vidas ao serem classificadas culpadas por pedofilia. (AQUINO E BAYER, 2014, online)
Hoje, o cenário offline do debate público foi amplificado no ambiente online, proporcionando autonomia aos sujeitos para propagar informações. Na visão de Manuel Castells, a tecnologia que serve como base da internet permite “o empacotamento de todos os tipos de mensagens, inclusive som, imagens e dados” e fez surgir uma rede “capaz de comunicar seus nós sem usar centros de controles”. (CASTELLS, 1999, p. 82.)
Para entender melhor tal ausência dos centros de controles, basta refletir sobre as interações digitais nas redes sociais. Um indivíduo pode a qualquer momento publicar uma mensagem que vai chegar, no mínimo, ao seu círculo de pessoas próximas. Essas pessoas também podem compartilhar a mensagem para seus círculos, e assim por diante. Nisso, vemos a rede se materializar sem depender de uma centralização (diferente de como a imprensa centralizava a informação no século 19). A internet é palco da sociedade offline e estende a realidade para o virtual, de maneira que os debates presentes na sociedade em rede fazem parte do cotidiano da população e influenciam os assuntos de interesse das pessoas.
O poder de criar informações e incentivar debates na esfera pública está, atualmente, democratizado. Um indivíduo não precisa de um status social elevado para participar de discussões virtuais, bem como o compartilhamento de notícias sem uma confirmação prévia dos fatos nela contidos auxilia no processo de desinformação.
Esse comportamento contemporâneo reflete no aumento das ocorrências das fake news. O Whatsapp, aplicativo digital que está presente em 91% dos smartphones dos brasileiros, é também a rede social mais utilizada no Brasil (COSSETI, 2017, online). A mesma rede foi apontada como o principal meio disseminador de fake news, conforme estudo realizado pelo Monitor do Debate Político no Meio Digital, da Universidade de São Paulo (USP).
Em complemento, o mesmo contexto pode ser visto na pesquisa da consultoria Kantar que diz que as redes sociais foram o meio de informação cuja credibilidade mais foi afetada pelas fake news. Para a maioria dos entrevistados nessa pesquisa, essas notícias falsas influenciaram resultados de eleições, por exemplo.
Visto o cenário emergente, onde as redes sociais influenciam no comportamento social, a AEPPSP (Associação dos Especialistas em Políticas Públicas de São Paulo) fez outro levantamento das principais características de um site de fake news e entre elas estão: domínios fora do país; notícias anônimas, não assinadas, cheia de opiniões, discurso de ódio; layout poluído, cheio de propagandas e uma intensa publicação de notícias.
No Brasil também temos o Gpopai, Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação, que tem sede na Universidade de São Paulo e se dedica à investigação dos efeitos das novas tecnologias para a produção e distribuição, principalmente quando se trata de acesso à informação. Com esse “boom” das fake news, vêm surgindo também as agências de checagem (fact-checking) que confrontam as histórias com dados, pesquisas e registros.

Um exemplo é a agência Lupa que afirma ser “A primeira agência de fact-checking do Brasil”. O slogan presente no website revela até mesmo um novo segmento de negócios em comunicação. E a proposta parece ser interessante no confronto às fake news.
“Somos a primeira agência de notícias do Brasil a checar, de forma sistemática e contínua, o grau de veracidade das informações que circulam pelo país”, continua o descritivo no site. Há, inclusive, uma explicação de como funciona o sistema de checar a veracidade das informações: “Gostamos de pensar que, agindo assim [checando as informações], contribuímos para aprimorar o debate público. Todas as frases que analisarmos serão classificadas segundo as oito etiquetas abaixo”.
As etiquetas mencionadas são as mesmas da figura ao lado. Elas também aparecem na leitura de qualquer notícia replicada no portal. Analisando conjuntos de frases e parágrafos, a agência classifica as informações de acordo com as etiquetas. No caso das informações falsas, é mostrada em seguida a verdade relacionada ao assunto.
São as agências de checagem como a Lupa que serão utilizadas pelo Facebook em seu programa contra fake news, conforme anunciado na última quinta-feira, 10 de maio. A rede social pretende implementar o sistema no ano eleitoral brasileiro, penalizando as páginas que publicam as fake news. (FOLHA, online, 2018)
Mas, mesmo com instituições, sistemas e programas que tentam diminuir essas notícias errôneas, é fundamental que cada pessoa se atente às características da informação e do meio. Contra os portais suspeitos, é sempre bom buscar a notícia em outras mídias para comparação. E se uma informação for boa demais para o gosto pessoal, convém desconfiar: o exagero das fake news agradam o imaginário humano e pode fazer qualquer um se apaixonar pelo fato falso.
* colaboraram com este texto: Marcio Augusto, Milena Bento, Yan Bertone e Kátia Zanvettor
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