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PODE APOSTAR… (Por: Michael Gomes)


Eu sempre gostei muito de High School Musical (2006-2008). É isso mesmo que você leu. E assim... você pode apostar nisso! Só tem um pequeno “porém”... Eu sempre acreditei que eu gostava dessa trilogia de filmes do Disney Channel por outros motivos.... Pelo filme ser um musical (e eu amar musicais!), por ser um filme Disney, entre outros tópicos… Mas acontece que não era somente por isso que eu gostava! Na verdade, eu me identificava mesmo pela narrativa vivida pelo personagem “Troy Bolton”, de seguir seus próprios sonhos, ser ele mesmo e não seguir o status quo de “perfeito” que os outros alunos lutavam para se encaixar. Mas também, eu gostava, é claro, pelo maravilhoso do Zac Efron no elenco.... Mas isso foi um bônus!

Naquela época dos filmes, eu estava terminando os últimos anos de Ensino Fundamental. Tinha acabado de dar o meu primeiro beijo em uma garota. E assim, vamos combinar? Eu não estava apostando em mim. Nesse período, eu estava “incorporando” o Troy, cantando a plenos pulmões sobre não se reconhecer, mais especificamente essa música:


“It's no good at all to see yourself and not recognize your face. Out on my own. It's such a scary place... The answers are all inside of me. All I gotta do is believe…”. / “Não é nada bom ver você mesmo e não reconhecer seu rosto. Fora de si mesmo. É um lugar muito assustador… As respostas estão dentro de mim. E só o que eu tenho que fazer é acreditar…”.

(Trecho da música “Bet On It” - Zac Efron/ High School Musical 2)


Detalhe! Essa música, apesar de ter sido importante para mim, foi vítima de milhares de paródias com cunho homofóbico naquela época. A mais famosa entre elas: “Libero sim”, que satirizava o sexo anal homossexual. Mas isso é pauta para outra discussão! O que eu quero mesmo frisar é que eu tinha todas as respostas para o meu problema dentro de mim.

Continuando com a linha cronológica, eu saí da minha escola (o famoso Grupão!) e fui para outro colégio para cursar o Ensino Médio: o aclamado CTI. O que eu tenho a dizer sobre isso é que o colegial foi uma loucura! Apesar de ter me ajudado a encontrar a minha vocação na Comunicação Social e de ter feito amigos que carrego até hoje, aqueles três anos foram períodos bens sombrios na minha vida…


Quando a turma chegou no famigerado “terceirão”, tinha muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. Aquela cena de Meninas Malvadas (Mean Girls, 2004), em que a Cady Heron compara os estudantes aos animais na África, serve como uma ótima referência a esse período. Tinha os meninos machistas se comportando como macacos, as garotas “famosinhas” como as leoas e, é claro, tinha eu: um dos veados da turma... Mas eu acho que estava mais para o “Bambi” (1942), depois que acontece a “tragédia” e ele começa sua jornada de amadurecimento… Isso é considerado um spoiler?

O ponto, nessa época, era que eu não me aceitava e nem lutava por esse sentimento. Eu não gostava de mim o suficiente para isso! Lá no 3° ano/série E, eu tinha outras influências que passavam por esse momento de “sair do armário” e também tinha amigas com quem podia contar… Mas de que adiantava eu ter “apoiadores”, quando eu mesmo não me ajudava? Eu poderia citar mil motivos para isso: família, parentes, amigos, religião, criação, machismo, patriarcado, entre outros… Mas, naquele momento, eu estava dependendo de mim mesmo… Eita, mundo cruel... Eu sofria mesmo era de uma danada de uma homofobia interiorizada/internalizada. Para quem não sabe o que é, este tipo de homofobia é o medo, ódio ou repulsa da própria homossexualidade, da própria orientação sexual… Por conta disso, eu cheguei até a machucar pessoas naquele tempo, inclusive um garoto… Vamos chamá-lo de Ryan Evans! Eu magoei demais o Ryan. Fui o pior tipo de pessoa para ele ou para qualquer um que precisava de uma “ajuda”... Graças a Beyoncé (maior artista viva!) que está tudo certo com ele e não aconteceu nada grave… Hoje está tudo resolvido! Precisamos repensar nas nossas atitudes, hein, galera! Que tipo de pessoa queremos ser? Fica aí a reflexão...

Enfim, depois dessa fase, saí do Ensino Médio e fui direto para faculdade de Jornalismo, na Univap. Segurei na mão da minha melhor amiga e fui! Durante esse processo, conheci muitas pessoas que abriram a minha cabeça. Nesses anos de graduação, eu também me aproximei de uma prima que estava nessa fase de: “Tô saindo de um noivado com um macho. Eu me apaixonei pela minha amiga da faculdade!”. Ou seja, ela também estava passando por um processo de aceitação e isso foi muito importante na minha jornada, até porque ela é um dos fatores motivacionais da minha felicidade. Aliás, amo um casal: as próprias Alex Vause e Piper Chapman (Orange is the New Black, 2013-2019).

Voltando! Estava tudo indo bem no meu processo, mas só que em câmera lenta... Eu já lidava melhor sobre questões pertinentes ao movimento LGBTQ+, mas só quando elas não diziam sobre mim ou ao meu respeito. Mas, SPOILER ALERT!, foi só um baque emocional acontecer que foi tudo ladeira a baixo… Ou melhor, eu comecei a viver!


Em outubro de 2015, o “elenco” da faculdade e eu perdemos um amigo… O jovem, como o chamávamos, nos deixou, mas foi aí que eu comecei a olhar para a vida diferente. Foi nesse momento que percebi que as respostas estavam bem ali dentro de mim... Naquele ano, eu me “assumi” para muita gente. Lembro claramente das cenas na minha cabeça, de sentar no banco em frente a faculdade com alguns amigos e chorar de soluçar... E é triste, se você parar para pensar. Hoje, vivemos em um mundo que precisamos disso para começar a lutar por algo. Queria que meus amigos héteros se assumissem para mim também! Mas isso também é outra discussão… Por que só a gente que têm que passar por isso?


Ainda durante essa fase, depois de ter me libertado, tive que sofrer nas mãos de muita gente... Ouvi coisas absurdas de familiares. Tive amiga do Ensino Fundamental me tirando do sério. Fiz um TCC só para me provar algo e aprender com isso. E eu fiz isso em meio a diversas crises de ansiedade. Para ser sincero, eu não sei nem como consegui entregar, mas venci o lobo mau…


Mesmo após isso eu sigo, nas palavras daquela expressão, “firme” e “forte”, tentando aprender e a me reconstruir aos poucos. E olha… não é fácil! Já fui agredido, expulso de lugares, já perdi emprego por isso… Foram muitas derrotas, mas o meu interior continua intacto. Hoje, eu acredito em mim. Tenho muito orgulho de quem eu me tornei. Eu só comecei a apostar em mim quando me vi e passei a me enxergar como gay… e orgulhoso!

Agora sim, você pode apostar em mim. De lá para cá, só foi #1 (number one) no HOT100 da Billboard da minha vida. Como diria a drag queen norte-americana RuPaul, “If you don't love yourself, how in the hell you gonna love somebody else?” (Se você não se ama, como diabos vai amar outra pessoa?). Não seja uma Sharpay Evans injustiçada correndo atrás do Troy (Zac Efron) como no filme! É isso.

Tirando a brincadeira de lado, outra coisa que eu queria destacar também, contando uma parte da minha história, é para vocês não viverem em função dos outros. Enquanto eu crescia, eu já me via como diferente da “normalidade”, mas assim, por que você vai se negar de amar? Por que você não é você mesmo? Amor é amor. E ele é lindo...















1 comentario


Marcio Augusto
Marcio Augusto
28 jun 2020

Quanto orgulho desse autor! Obrigado por compartilhar sua história aqui. 🏳️‍🌈

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