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O primeiro ano do resto da vida

Um relato do primeiro ano de uma recém-formada em jornalismo



Estou prestes a completar um ano de graduada em jornalismo, pela Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP). De um ano para cá, meu peito estufa de orgulho quando me questionam sobre qual é a minha profissão e eu digo com todas as letras: sou jornalista. Só que, depois dessa sensação de dever cumprido, confesso que paira a dúvida: será que realmente estou preparada para ser uma jornalista?

Sim, preparada para ser jornalista eu sou. Defendo a ideia que o jornalismo não é apenas uma profissão com horas comerciais estipuladas. Ser jornalista é literalmente ser, 24 horas por dia, 7 dias na semana. Uma vida dedicada às pessoas, histórias e fatos. Um cotidiano à serviço da noticiação, seja ela qual for. Essa foi minha escolha. Talvez, a dúvida esteja na percepção da realidade depois que me formei. Na diferença do meio acadêmico com o mercado. Nas frustações de achar (só achar!) que, se os sonhos profissionais ainda não foram realizados, será difícil achar outra saída.


Nunca tive dúvidas da profissão na qual queria seguir. Quando criança sentava ao lado da minha mãe enquanto lavava a louça e brincava de telejornal, imitando os jornalistas que via na TV e contando sobre o meu dia, isso na maioria das vezes, com um blazer que achava no guarda-roupa dos meus pais e que dava três de mim lá dentro. No ensino médio, dizia que estava à procura de uma profissão que soubesse um pouco de tudo e trabalhasse em prol desse conjunto. Num carnaval qualquer, conversando com um amigo que já estava cursando jornalismo, tive a certeza de ter achado o que estava procurando. Bingo! Dali para frente, as metas foram estipuladas.


Conforme os semestres da faculdade foram passando, essa certeza se solidificava ainda mais. Me fazia completa com cada disciplina e, mesmo que não me simpatizasse profissionalmente com algumas, tentava ao máximo dar o meu melhor, porque afinal de contas, era jornalismo. Era essa profissão que fazia meu coração bater mais forte. De acordo com as descobertas acadêmicas também, fui traçando sonhos, como o de ser uma jornalista do impresso à moda antiga, daquelas que andam com o bloquinho na mão e o jornal debaixo do braço. E outros tantos, alinhados com as especialidades que me atraiam. Peguei esses sonhos que flutuavam no ar e os tornei realidade em trabalhos acadêmicos e principalmente, no meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).


Só que, quando a euforia passou, as parabenizações dos professores foram ficando cada vez mais distantes e o diploma estava em mãos, eu e claro, todos os meus colegas de turma, tivemos que lidar com uma realidade bem diferente daquela que almejávamos.


Fui sortuda e feliz ao longo desse ano nas oportunidades profissionais. Trabalhei como assessoria de imprensa e em outros pequenos projetos. Porém, os sonhos precisaram aceitar algumas mudanças. Talvez, nunca serei aquela jornalista à moda antiga. Os comunicólogos de hoje precisam se adaptar e atualizar diariamente às novas tecnologias e à nova forma de fazer jornalismo. Não são fáceis as mudanças, o mercado, a crise.


Acredito que, o que irá fazer diferença para o recém-formado é a escolha entre se acomodar com o que lhe é proposto ou correr atrás da realização profissional, mesmo com todas as dificuldades.

Hoje, me encontro nessa maratona em direção a um ideal jornalístico, digamos assim. Vou me reabitando, buscando e correndo atrás do que acredito com a mesma certeza que tive quando escolhi o curso: a de que eu nasci para ser jornalista. Uma profissional que busca o outro olhar das situações, o valor do ser humano e o resgate da noticiação das histórias de vida. Uma jornalista que escuta, reflete e escreve, mantendo viva suas ideologias e sua crença numa sociedade mais justa.


Por fim, quando tento encontrar uma fase que me represente como jornalista, lembro do que foi dito pelo herói Vladmir Herzog, uma referência do jornalismo que foi assassinado por não desistir da profissão. “Quando perdemos a capacidade de nos indignarmos com as atrocidades praticadas contra outros, perdemos também o direito de nos considerarmos seres humanos civilizados”. E, como o título mesmo diz, esse foi só o primeiro ano do resto da vida.


Este texto foi escrito por Natalee Neco.

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