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Entrevista com jornalista e pesquisadora Janaína Moro



O dia das mulheres já passou, mas os debates e discussões acerca do tema de assédio sexual contra mulheres não. Apesar de muitos avanços, as mulheres ainda sofrem e são prejudicadas pela desigualdade de gênero na sociedade, com as mulheres jornalistas e da área de comunicação não seria diferente.


Pensando em entender mais sobre o tema, a jornalista Janaína Moro, formada na Universidade Municipal de São Caetano do Sul (2007) desenvolveu uma pesquisa de mestrado sobre assédio sexual e discriminação de gênero na trajetória profissional de jornalistas. Ela nos concedeu uma entrevista e nos conta como surgiu essa ideia para a pesquisa e como as jornalistas enfrentam essas situações no cotidiano. Confira:


Equipe Labcom: Como surgiu essa ideia e tema para o seu mestrado?


Janaína Moro: Escolhi essa temática quando observei a militância evidenciada, principalmente no ano de 2018, período da Copa do Mundo, através das muitas trending topics das redes sociais, sobre as hashtags: #jornalistascontraoassedio #ChegaDeAssédio, #Chegadefiufiu #Primeiroassedio, "Deixa Ela Trabalhar”, #jornalistascontraoassedio. E, ao perceber que embora a discussão ganhasse a esfera digital, no âmbito do dia a dia, o assédio continuava silenciosamente, conforme conhecimento de colegas que passavam por isso, mas não vislumbravam formas de superá-lo. Além disso, senti muita resistência das jornalistas em participarem das entrevistas, por receio de perderem o emprego.


EL: Esse tema tem relação com alguma vivência pessoal?


J: Já vivenciei em minha trajetória, situações de assédio. No veículo de comunicação o qual atuei a maior parte da minha carreira não tive esse tipo de problema, no entanto, antes de ingressar na carreira efetivamente fiz entrevista em uma emissora nacional, e o entrevistador, que era chefe de redação, me assediou descaradamente.


EL: A sua pesquisa foi de abordagem qualitativa, por que você escolheu essa modalidade?


J: Para entender em profundidade a questão do impacto do assédio sexual na carreira das jornalistas, não poderia ter sido feita de outra forma, a pesquisa qualitativa é capaz de identificar e analisar dados que não podem ser mensurados numericamente.


EL: A sua pesquisa mostra que as empresas não possuem canais e meios para denunciar o assédio. Na sua opinião, por que isso ainda não existe?


J:Na minha opinião tudo que não visa lucro fica em segundo plano, e como a própria pesquisa mostra é um assunto que as mulheres naturalizam, portanto, silenciado fica mais difícil de ser combatido.


EL: Além disso, como que o assédio nas ‘’sutilezas’’ pode influenciar na falta desses canais e na ausência de mais denúncias?


J:Infelizmente é um ciclo, você passa por isso, naturaliza, ou enfrenta dentro das suas possibilidades, mas não encontra meios de sair dessa situação, já que não encontra uma rede de apoio segura ofertada pela organização ao qual trabalha. Essa é a situação atual, que a minha pesquisa mostrou. As jornalistas utilizaram como forma de enfrentamento da situação apenas contar o ocorrido para outra colega, esse enfrentamento fica nas sutilezas do dia a dia, pode até influenciar na ausência de mais denúncias, no entanto, problema maior é que elas não encontram canais para denunciar e que se sintam seguras em fazer isso, sem ter seus empregos ameaçados


EL:Como que as pessoas podem exigir que as empresas tenham esses canais próprios de assédio?


J: Debatendo mais a temática. Minha pesquisa trouxe diretrizes que as empresas podem tomar entre elas estão:

1. Desenvolver comissões ou divisões organizacionais voltadas para a abordagem do problema, para a qual devem ser reportados os casos de assédio sexual, garantindo a participação ativa das mulheres em todas as fases e instâncias;

2. Dispor de espaços de escuta com sigilo e privacidade e gerenciados por mulheres, que possibilitem que as mulheres relatem o problema de maneira segura e acolhedora;

3. Desenvolver produtos comunicacionais, nos diversos formatos de mídia, que sejam disponibilizadas na ambiência física e digital organizacional no sentido de dar visibilidade ao comprometimento das organizações e combater o assédio sexual, seja entre funcionários, seja por parte de fontes;


EL: Ainda existe certo receio de fazer denúncias e divulgar casos de assédio. Na sua opinião, como que as jornalistas podem mudar isso?


J:Existe muito receio, foram muitas as colegas que sofreram assédio, mas que não concederam a entrevista para a pesquisa por medo de retaliação dos empregadores. Infelizmente é um tema espinhoso. Mas, temos de debatê-lo, levar os casos de assédio aos órgãos pertinentes e enfrentar de maneira mais assertiva esse problema.


EL: Quais atitudes e ações tanto de jornalistas, como de outros profissionais e pessoas podem combater o assédio no dia a dia e no ambiente de trabalho?


J:A Organização Internacional do Trabalho orienta para que as denúncias sejam feitas nos Sindicatos ou Associações, nas Gerências do Ministério do Trabalho; no Ministério Público do Trabalho da sua localidade; na Delegacia da Mulher, nada impede, ainda, que a vítima busque assistência jurídica para ajuizamento de ação trabalhista na Justiça do Trabalho.

 
 
 

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