Entrevista com a jornalista Jacqueline Lafloufa
- Labcom Univap
- 17 de set. de 2019
- 7 min de leitura

Créditos: lafloufa.com
Estamos iniciando no blog uma série de entrevistas com pessoas muito especiais que atuam na área da comunicação. Nossa primeira convidada é a Jacqueline Lafloufa, que contou para gente um pouco dos seus trabalhos e sua relação com a pesquisa.
Jornalista freelancer, tradutora e consultora de comunicação digital, Jacqueline carrega uma bagagem incrível ao longo de sua carreira. Aprendeu sobre ciência e tecnologia durante o colégio no técnico na ETEP. Hoje é bacharel em literatura e especialista em jornalismo científico (UNICAMP), além de especialista em comunicação digital (USP).
Já produziu conteúdos para revistas, sites e marcas relacionados a tecnologia, dados e pesquisa. Assinou capas da Galileu e cobriu o festival SXSW para a revista e para o UOL Tab. Já foi editora dos sites B9, BlueBus, além de colaboradora do Tecnoblog, Gazeta do Povo e Vida Simples. A sua especialidade é criar narrativas que consigam explicar coisas complicadas de forma mais fácil.
Como se não bastasse (rs) ela ainda tira um tempinho para se dedicar a projetos pessoais, entre eles os podcasts: “Não Li, É Bom?” (também canal no Youtube) e “Se Fosse Fácil Era Exatas”, em parceria com a Marcella Rosa e Fabíula Neubern e o site “Interwebz”, na qual reúne uma série de traduções de materiais em inglês que ficam acessíveis para o público brasileiro.
Incrível, né? Continue lendo para acompanhar nossa entrevista!
Equipe Labcom: Com o curso de bacharelado em Estudos Literários como você fez a migração para o Jornalismo e como você soube que queria trabalhar com isso?
Jacqueline Lafloufa: Eu sabia que queria trabalhar com algo na base da escrita quando eu sai dos meus estágios do técnico. Eu fiz colégio técnico na área de informática, então eu vim da área de tecnologia, e eu percebi que a minha habilidade não era exatamente com tecnologia, mas era em explicar a tecnologia. Eu já sabia que eu queria trabalhar com a comunicação, mas eu fui para literatura falando assim: “eu prefiro aprender a coisa que eu vou escrever sobre do que aprender a escrever primeiro”. Depois eu fui buscando como me especializar dentro do jornalismo. Aos poucos eu fui pegando as minhas primeiras experiências, comecei a fazer jornalismo na área de tecnologia e fui atrás de especialização. Assim que eu já tinha dois ou três anos de jornalismo de prática eu fui atrás de especialização em jornalismo científico no Labjor (Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo – Unicamp) onde eu aprendi algumas coisas do dia a dia da prática. Tive aula com pessoas que me ensinaram detalhes de como fazer uma entrevista com cientistas ou o que prestar atenção em uma revista acadêmica, foi bem interessante. Mas, o ponto é você ter uma direção. Se você sabe, por exemplo, que você está fazendo uma faculdade de jornalismo, mas que você quer trabalhar com o lado de economia, de repente vai buscar cursos e informações ou livros que possam complementar o seu conhecimento em economia, para você fazer perguntas mais incisivas, entrevistas mais provocativas, coisas desse tipo.
EL: Pesquisar e aprender sozinho sobre mídias digitais é uma opção para quem ainda está na universidade? Por quê?
JL: É sempre uma opção aprender sozinho hoje em dia. Porque eu acho que não existem mais apenas um tipo de local de aprendizagem, “você só aprende na universidade”, “só aprende na escola ou em um curso”, existem milhares de tutoriais online que você pode usar para aprender, ebook de pessoas que disponibilizam online. Tipo eu, que publiquei em 2014/2015 um guia de como usar as mídias sociais no Jornalismo. Tem muita informação que está disponível online que você pode filtrar se combina com você ou não. Existe um outro ponto também que é muito importante lembrar que essas mídias elas mudam muito rapidamente, vamos falar, por exemplo, sobre o Instagram. Na época que eu fiz esse guia o Instagram era apenas um lugar para tirar fotinha de férias e de repente ele se tornou uma das principais redes que a gente usa hoje em dia. Então, o jornalista tem que pressupor que ele está acompanhando essas mídias e entendendo como é que ele vai fazer o uso delas para o seu trabalho. Como é eu faço uma reportagem para o Instagram? Eu vou usar um vídeo, vou usar o IGTV? Eu acho que estar acompanhando essas coisas, pressupõe que você está acompanhando isso de uma forma não estruturada. Você aprende de certa forma brincando com a ferramenta ou buscando quem está fazendo e dando dicas nela.
EL: Você já escreveu um livro e produz conteúdo para o seu blog. Para você é importante colocar em prática a escrita? O que isso influencia no seu trabalho?
JL: Eu acho que a escrita é uma prática importante sim, até porque uma coisa é você escrever o que você gosta ou o que você quer escrever e outra coisa é você escrever com um objetivo. Por exemplo, quando eu trabalho para uma pauta jornalística eu estou cumprindo um objetivo que o editor me passou, estou cumprindo uma pauta, seguindo uma estrutura. Quando estou escrevendo para uma marca eu também estou respondendo as necessidades daquela marca. Eu acho que existe um viés de você trabalhar a escrita do jeito que você quer, quando você não está limitado a um tipo de público ou você não está limitado a um tipo de linguagem diferente. Como é fazer um texto sobre o que você gosta, se você fosse seu chefe? Então, eu gosto muito de ter esses pequenos momentos onde eu invento, as vezes é trabalho não remunerado, né? Claro! Porque você está fazendo pela habilidade. Mas, você escrever uma coisa que você gostou, fazer uma crônica para você publicar na sua própria rede, isso te exercita e te motiva também, porque as vezes você pode estar escrevendo sobre um monte de coisas tristes ou ruins, que não te agradam. Acha alguma coisa que possa mudar esse foco de motivação, fora o fato de que é um grande exercício.
Escrever é nossa ferramenta do dia a dia, a gente não pode deixar enferrujar.
EL: Você trabalha como freelancer há 10 anos, o que mudou na sua produção de conteúdo nesse tempo?
JL: A primeira coisa a dizer é a qualidade. Quando eu comecei como freelancer eu tinha um editor muitíssimo bom, o Henrique, um querido. Ele me dava as dicas do que eu estava fazendo de errado no meu texto, de como eu podia refinar, melhorar, então desde que eu comecei, que era uma coisa muito: “senta faz e vê o que acontece”, hoje em dia eu tenho estruturas, tenho modelos, tenho formas de vender minhas pautas. Na época em que eu comecei eu pegava pautas que me indicavam para fazer ou ia seguindo pautas do dia, ou de repente olhando noticiários internacionais tentando trazer e dar uma “brasileirada” no material, enquanto hoje eu já consigo ter um olhar um pouca mais crítico para o material. As vezes eu quero falar totalmente o contrário do que os outros estão falando ou levantar uma nova pauta. Observo o meu cotidiano e tiro uma pauta e consigo “revender” essa ideia para um editor. Acho que me tornei um pouco mais independente, mais do que freela, eu me tornei uma freela independente. No começo eu era uma freela fixa, eu trabalhava para uma publicação, seguindo os modelos e hoje eu percebo que eu consigo navegar por mais de uma.
EL: Como é a área de consultoria no meio tecnológico? Como você ajuda as empresas com isso?
JL: As consultorias que eu dou são bem interessantes no sentido de que elas são para empresas, às vezes, de tecnologia, mas elas são consultorias de comunicação. Porque são essas coisas que as empresas ainda não sabem fazer tão bem. Você chega em uma startup na qual ela é excelente no que ela faz, só que o que ela faz é tão novo que ela não consegue explicar para o público. A consultoria que eu faço com eles é muito de sentar e entender. É um processo de entrevista – o que faz sua empresa, por que ela é importante, quem você atinge – e ajuda-los a entender como eles se posicionam em termos de comunicação especialmente no mundo digital. O que eu faço em termos de consultoria é sentar, conversar, usar um pouco da bagagem que eu adquiri com outros clientes ou na prática mesmo, e tentar leva-los para um lugar melhor que eles estão agora.
EL: Como você aplica a pesquisa nas suas áreas de trabalho?
JL: Eu aplico o que eu aprendi com pesquisa, e eu aplico, pesquisas. O que eu aprendi com pesquisas foi que você tem que ter método, estrutura, referência, gente que seja validada para participar da sua pesquisa e eu também utilizo muito o pesquisador. Como eu sei que ele tem esse cuidado com o que ele trabalha, eu vou muito atrás de pesquisadores e cientistas, para que eles possam me ajudar nas construções das matérias e validar o que eu estou escrevendo. Mas, também me contar o que eles estão descobrindo. Se eu estou fazendo uma pauta sobre algo que envolve antropologia, eu quero encontrar um pesquisador daquela área que possa me dizer o porquê que, por exemplo, a área do Direito está mudando tanto com a chegada da tecnologia (Veja a reportagem de Jacqueline no UOL TAB sobre esse assunto). Se eu for falar com a galera da tecnologia, eles vão falar com um viés totalmente de: “isso é o futuro”, “tudo vai ser assim”, “assim que vai dar certo”, mas eu quero alguém que traga o contraponto, quero alguém que tenha essa prática da pesquisa de falar assim: “mas o contexto, a referência, o histórico”, e isso quem costuma ter é um pesquisador.
EL: Qual conselho você daria para alguém que está entrando no mundo da pesquisa agora?
JL: Quem está começando agora a lidar com o processo de pesquisa, primeiro tenha calma, porque a linguagem da pesquisa as vezes é difícil, ou para você entender como uma pesquisa foi feita é complicado. Depois que você passar por esse momento de um faniquito inicial e conseguir manter sua calma, pensa que alguém chegou em alguma conclusão final daquela pesquisa e você sempre pode tentar entrar em contato com a pessoa que fez a pesquisa. Você pode procurar cientistas que conheçam aquela pesquisa e possam comentar sobre ela com você, então aquilo costuma ser uma fonte de muita informação, você só tem que ter calma para navegar pela linguagem complicada e sair com alguma coisa que você possa transformar em informação e conteúdo.
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