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Admirável Foucault Novo

Escrito por Yan Bertone


A relação do saber e do poder presente na literatura de Huxley


Para quem gosta do assunto, é normal já ter lido ou até ouvido falar de Admirável Mundo Novo, a obra literária de Aldous Huxley que é muito estudada sobre o sistema de vivência por ela retratada. O que assuste talvez seja o que Foucault pode ter a ver com o tal livro, já que o estudo de seus livros, teorias e discursos é considerado, por muitos, algo complexo.


Então vamos lá! Claro que esse é apenas um texto que liga as ideias dos autores, o entendimento de Foucault vai muito além do que está escrito aqui, mas nada como uma análise mais leve que pode ajudar a entender alguma coisa sobre o assunto, não é mesmo?


Começando pela obra literária, temos, apresentada por Huxley, uma sociedade dividida em castas. São elas: Alfa, Beta, Gama, Delta e Ípsilon – o grau de importância de cada um diminui conforme ele se insere em castas consideradas inferiores.


Em meio a narrativa há, também, os selvagens: um retrato da sociedade atual como estamos acostumados, utilizada para contrastar com o sistema apresentado no livro.



Mas afinal como alguém sabe como foi parar nessa divisão? A sociedade de Huxley é adepta ao condicionamento (físico e psicológico) dos seus integrantes. Os cidadãos Alfa são maiores e mais inteligentes que os Ípsilon, mas ninguém escolheu onde chegaria, a divisão funciona desde o nascimento de cada um.


Os Alfa são os mais importantes da sociedade, a eles é transmitida a maior quantidade de saberes e conhecimentos, para agirem na tomada de decisões, enquanto os demais sofrem atém mesmo com o tamanho corporal. As camadas mais baixas têm cidadãos menores para caberem em locais pequenos e desempenhar papéis práticos.


A formação de um cidadão em Admirável Mundo Novo é tida pela transferência de saberes: quanto mais a pessoa sabe, mais poder ela tem dentro da sociedade. É aí que entra Foucault.



Eu sei que você achava que eu já tinha me esquecido dele, mas não. Foucault argumenta que tanto o saber quanto o poder são dependentes, um não existe sem o outro. Para se ter poder é necessário o saber e vice-versa. Isso se torna claro na obra de Huxley quando a divisão de castas explicita a importância do saber para alguém desenvolver um determinado papel.


Se tomarmos a sociedade do livro como exemplo de um poder disciplinar, regrado e engessado, somente com condicionamentos como os apresentados seria possível uma certa ordem, tendo indivíduos agindo conforme o planejado pelo sistema, uma vez que não tem o saber de agir de diferentes maneiras.


É claro que Huxley não deixou de fora discursos que combatem esse sistema como o da sociedade apresentada. Eles são representados no livro pelos personagens que buscam mudança ou veem nos selvagens a liberdade daquela instituição responsável por seu condicionamento, mas algo inatingível para tais personagens.


Fica claro, então, que essa dissidência de ideias na busca por romper com o poder ali instituído, ainda faz parte da rede do macropoder da sociedade de Huxley e que apenas a sociedade selvagem não se vincula a estes condicionamentos, já que nunca se integrou a esse sistema de castas.


Com isso torna-se possível observar a articulação e similaridades de ideias presentes nos autores, mas claro, isso é apenas a pontinha de toda um estudo possível que nos faz pensar em como agimos hoje e como cada um de nós foi parar em determinada posição na nossa sociedade. No mais, é preciso não pirar com tudo isso, sigamos atentos e fazendo nosso papel, se é que me entendem...

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